O rabisco na parede

O rabisco na parede

O sol quente da Califórnia penetrou aos poucos pela janela aberta do quarto em que Patrick Jane dormia.

O consultor do CBI abriu os olhos lentamente. Não levantou logo. Deitado num colchão sem cama, esperou que sua mente recém desperta o reconectasse com o mundo, que ele se reconhecesse como Patrick Jane.

Ainda deitado, ergueu a mão esquerda e examinou a aliança de casamento que não deixara de usar mesmo depois de tantos anos. ensaiou um gesto para retirá-la. Estranhamente, seu olhar foi atraído para o rabisco de um rosto pintado na parede ao seu lado, o desenho que velava seu sono todas as noites, à medida que seu traço vermelho sangue enegrecia. Sentiu que aquela figura o desafiava a prosseguir. "Vamos, Patrick, esqueça tudo. Enterre as lembranças e construa uma nova vida. Afinal, já se passou tanto tempo!"

Tanto tempo...

No quarto, só mesmo o colchão. O despojamento de móveis dava ao lugar um jeito de abandono, de tristeza. O rosto rabiscado na parede piorava essa impressão. Na verdade, aquele desenho, mais parecido com umrabisco de criança, para quem conhecia o seu significado representava algo mórbido, sinistro... Anunciava uma presença indesejada... Um círculo não fechado, desenhado em sentido antihorário com sangue humano... E a figura sorria de ohos fechados... Red John... Sua lembrança pairava naquele quarto...

Era estranho imaginar porque alguém manteria aquela referência macabra tão próximo de si. Patrick Jane seguia na contramão. Ele não podia esquecer. Ele não queria esquecer.

Mas algumas vezes era impossível não pensar como seria recomeçar...

Sorriu ao pensar em Teresa Lisbon e em como o nervosismo se instalava com tanta propriedade em suas feições quando ele colocava de lado aquela postura de garoto inrresponsável. É, ele já havia demonstrado que se importava muito com ela, como naquela vez, presos num conteiner, Jane dissera que nunca desitiria de salvá-la. Aquela não era um coisa corriqueira que se dizia a uma colga de trabalho. Mas Lisbon não se deixava envolver facilmente. O cargo que exercia e, principalmente, suas experiências pessoais, proporcionaram a ela uma postura severa, acentuada diante das incorreções cometidas por ele.

Sem perceber que ainda remexia na aliança em seu dedo, Jane se perguntava como seria tocar e sentir-se tocado novamente pelas várias maneiras que um amor verdadeiro permite...

De repente, levou os pulsos até o rosto e apertou os olhos com força como se à dor de anos atrás fosse se juntar uma outra, tão dilacerante quanto a primeira.

Jane sabia que esquecer tudo, recomeçar verdadeiramente sua vida significaria para Red John que a dor imposta por ele ao vidente charlatão já não importava mais. E, então, ele esperaria que Patrick se sentisse feliz, seguro e em paz para lhe mostrar que ele, Red John, não havia esquecido.

Quantas vezes ele não aparecera para Jane em outros rostos? Quantas vezes não se mostrara a todos por meio do sacrifício de pessoas que acreditaram nele?

Red John estava sempre por perto, isso era fato.

E arriscar alguém pór um sentimento, ainda que claro, embora confuso e permeado pelo amor anterior, não era algo que Jane cogitasse facilmente.

Sam Bosco e toda a sua equipe de agentes fora assassinada para que ele pudesse voltar ao caso. O que Red John faria se acreditasse que Patrick Jane já não o perseguia tão obcessivamente como antes?

Patrick suspirou um tanto irritado, ao notar o quanto estava sendo sensato. "Vê, Lisbon, como posso ser sensato, racional, ponderado... para proteger você?"

Não, ela não tinha ideia e talvez nunca chegasse a ter, pois Jane mataria Red John e depois disso desapareceria. Não estava disposto a pagar judicialmente por essa morte. Mas, de algum modo, ele pagaria.

Já há alguns meses ele vinha tendo um sonho recorrente. Sonhava que matava Red John, embora não pudesse ver seu rosto, apenas sabia que era ele. Ao se aproximar do corpo do assassino de sua família, ele avistava um outro corpo. Às vezes era Grace. Outras Cho. Algumas vezes, Rigsby... E muitas,muitas vezes Lisbon. Haviam sido mortos não apenas com a mesma arma, mas também com a mesma bala.

Jane sabia bem o aquilo significava. Então, por que não desistir? Por quê sacrificar a convivência com pessoas que de algum modo se tornaram a sua família?

Patrick balançou a cabeça. Detestava ser dramático ou sentimental, principalmente depois da morte de sua esposa e filha. Por elas prosseguiria caçando Red John. Não bastava que ele pagasse pelos moldes da lei. A dor causada por ele não seria aplacada dessa forma. Não seria impedindo-o de matar que ele compreenderia o mal cometido.

O celular tocou. Era da CBI.

Ficou ótiimooo, parabéns!!!
Que lindo e ao mesmo tempo um pouco sombrio o que ele sente pela Lisbon mas, tomara que na série o Jane não espere capturar o RJ para ficar com a Lisbon HAUSH1U1HU2H1U21U2H12HU